O que gira em torno do 8 de setembro, dia oficial do aniversário de São Luís? Apesar das controvérsias em relação a data e até a quem merece os créditos da fundação da cidade, a versão mais aceita vem de um documento escrito por um padre em 1614. O G1 entra nessa história e mostra o contexto por trás do nascimento da capital do Maranhão.
Antes da fundação
Segundo as principais pesquisas, a região onde está São Luís era habitada majoritariamente por índios tupinambás. A região passou a ser cobiçada para colonização pelos portugueses em meados dos anos 1500, mas várias expedições não tinham êxito.
“Portugal mandou uma expedição para cá liderada pelo capitão Aires da Cunha em 1535. A expedição acabou naufragando quando se aproximou da ilha. Depois, uma nova expedição veio para tentar colonizar, mas naufragou de novo. Elas chegavam no canal do boqueirão e não tinham êxito. No início do século XVII, mesmo por terra as expedições não davam certo”, afirma o historiador e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Euges Lima.
“Depois das tentativas fracassadas, Portugal deu um tempo em relação ao Maranhão, que fica sem colônia num primeiro momento. Diante disso, os franceses, que disputavam o litoral brasileiro e tinham conhecimento do litoral norte, enviaram uma expedição para colonizar o Maranhão no início do século XVII e começaram a explorar a região”
Os franceses em São Luís
Após a chegada dos franceses, o historiador Antônio Noberto conta que o litoral do Maranhão era feito de entreposto e fazia a ligação entre o Amazonas e os portos franceses da Bretanha e da Normandia. O porto principal era em São Luís, onde hoje está a região da Ponta d’Areia.
“Nesse período tinha um reduto protegido por um forte, onde hoje fica o bairro do São Francisco, do início da Rua das Paparaúbas, onde fica hoje a Praça Botafogo e o edifício Malibu. Sobre esse reduto, no início dos anos 1600, o navegador Charles Des Vaux e seu vizinho, Daniel La Touche, se encontraram com o rei da França, Henrique IV. Ele ordenou outra expedição para ver que lugar ‘legal’ era esse, onde começaria a colônia e a capital”, relata Antônio Noberto, que também é presidente da Academia Ludovicense de Letras.
Após a morte do Rei, que era protestante, Daniel se juntou com católicos e fez a expedição para São Luís. A fundação da cidade ocorreu onde hoje é a Praça Pedro II, lugar estratégico onde tem uma área elevada entre o rio Bacanga e Anil.
8 de setembro
Segundo Euges Lima, nas expedições francesas ao Maranhão vieram padres capuchinhos para catequizar os índios. Esses padres ficaram por um tempo e, quando voltaram à França, alguns publicam livros. O padre Claude de Habeville publicou um muito importante, em 1614, chamado ‘história da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão’.
“Claude esteve nessa região em 1612, passou quatro meses, e descreve a viagem e a vida aqui. No capítulo 13 do livro, ele fala sobre uma cerimônia, onde os franceses levantam uma cruz, mais ou menos em frente o Palácio dos Leões. Isso foi em um 8 de setembro. Era um ritual de posse da terra, que depois passou a se chamar São Luís”, descreve o historiador.
O nome ‘São Luís’
Segundo os relatos mais aceitos pelos historiadores, São Luís é fruto de uma homenagem a um rei francês. Mesmo após a expulsão dos franceses pelos portugueses, Jerônimo de Albuquerque mantém o nome ‘São Luís’ para guardar melhor a sua memória.
“Houve uma reunião em Paris, onde hoje é o Museu do Louvre, com Daniel de La Touche, François de Razilly e tantos outros. Lá se decidiu que se construiria um forte e se colocaria o nome do rei menino, Luís XIII, em honraria também ao rei Santo, Luís IX, e se faria um convento e um porto, que é a rampa campos Melo”, declara o historiador Antonio Noberto.
Fundação francesa ou portuguesa? Há versão fake?
Antonio Noberto diz ainda que o que se conta a respeito da mentira da fundação franceses não é bem uma verdade. Ele justifica afirmando que o caso da capital maranhense foi um dos únicos com características próximas as de uma fundação ‘oficial’.
“Fundar é somente a alteração do espaço físico natural, presença de um governo, local de ajuntamento cívico-militar e delimitação territorial. As fundações portuguesas no Brasil eram mínimas, precaríssimas, muito mais do que São Luís. Em São Paulo, por exemplo, era só uma escola jesuíta de madeira. Mesmo assim, valeu. Então São Luís é a única do Brasil que tinha três fortalezas e tem mais características de fundação”, afirma Noberto.
Fonte: G1 MA